por Márcia Francisco
Um universo mais que encantado. Um universo sagrado. Esta é a essência de Corteo, espetáculo do Cirque du Soleil em temporada
no Brasil e em cartaz na capital mineira.
Corteo, que significa “cortejo” em italiano, é
um desfile alegre e festivo imaginado por Mauro, o Palhaço Sonhador. Assim é
descrita pela trupe, a trama do fascinante espetáculo, criado e dirigido por Daniele Finzi Pasca. Mas, qualquer
palavra, resenha ou significação é pouca para traduzir Corteo. Sob o meu olhar, o mais tocante de todos os
incríveis espetáculos do Cirque.
O espetáculo nos
permite um mergulho em um universo mágico residente entre o céu e a terra. O fio que conduz a vida, nos transporta para o
além e, em dualidades várias remonta em
pensamentos, memória s e emoções a
intensa e frágil experiência da vida. Ilusão, lirismo, o perfeito e o
imperfeito, o real e o irreal, o etéreo,
o surreal, o velho e o novo, a morte e a vida, passeiam aos nossos olhos, na magia
dos acrobatas. Quarenta anjos, se dividem em quatro tipos e amparam,
protetores e sempre bem-humorados, leves
e sempre presentes, enredo e homens. Uma
anjinha ensina Mauro, o palhaço sonhador, a voar! Outro anjo ampara um cego que
perde no ar o seu chapéu. Galinhas voadoras! Um homem assovia clássicos com inacreditável fidelidade e beleza. A banda precisa revela quatro pilares de pura harmonia. As vozes são sublimes, etéreas, impecáveis.
Inclusão
não é novidade para o Cirque du Soleil que, a cada montagem nos apresenta as
maravilhas da diversidade universal, vivendo em harmonia, exalando beleza e
alegria. Há um palhaço, há uma palhacinha... ambos são encantadores e esbanjam
talento. Há um palhaço gigante... tão
gigante que seu tamanho é pura ternura.
Há um teatro íntimo que traz os três e outros cinco, numa divertida
versão de Romeu e Julieta, desfeita no tempo
perfeito das cenas do espetáculo inteiro. Que palhacinha é essa que flutua sobre nossas
cabeças e depende de nós para voar?
Sentido mais que sagrado da profana condição do diferente para sobreviver
junto ao universo dos homens em seu ordinário. Mas, cortejamos juntos e sempre
é possível transformar... Porque o Cirque revela a condição dos homens no
universo dos anjos e do sonho realizado. Ali quimeras se desfazem em realidades
possíveis. Vale lembrar o trabalho árduo de cada um daqueles mais de 1.300
artistas de mais de 50 países diferentes, que entregam sua verdade e arte maior
à condição de nos proporcionar horas de puro acreditar. Cirque du Soleil
é sonho, suor, superação, sentido,
sentimento, sabedoria de Ser.
Corteo já foi assistido por cerca de 6,8
milhões de pessoas desde a primeira estreia no Canadá em 2005. Sei que minha
fala não faz menos unânime as universais críticas positivas ao espetáculo e seus
artistas. Mas, aqui deixo uma impressão
que me tocou profundamente. O mundo
inteiro sabe que tudo no Cirque funciona com perfeição, o mundo inteiro também
sabe que os roteiros são sempre de puro encantamento. Mas, me emocionei ao
constatar que, para transitar no universo
entre o real e o imaginário, através do tênue cordão que liga a vida e a morte
ou à pós vida, ou o tempo de quase morte ou, ainda, o instante do sonho, a
ilusão do tempo, como queira denominar, a criadora concebeu o espetáculo, apresentado
num inusitado palco 360° - nos permitindo reconhecer expressões e até mesmo nos
retratarmos na face contrária aos nossos assentos – assentando seu elenco em
palco central que reproduzia com precisão
as proporções e o tamanho do secular e reconhecidamente sagrado, Labirinto da
Catedral de Chartres, na França. Há alguns anos, estudo a força e os ícones
contidos no referido labirinto, valores tão facilmente explicados, aliás, nos
livros da pesquisadora Kathleen McGowan, entre outras tantas bibliografias
afins. Em seu centro, uma rosácea de seis pétalas que, aliás, eu trago tatuada na
parte frontal do meu ombro esquerdo. “A
rosa no centro do labirinto da catedral de Chartres é o coração de um
inigualável templo construído para reverenciar o poder da oração. Foi
fundamental aos ensinamentos da escola medieval de ritos, e para a mais
poderosa sagrada tradição cristã que ficou perdida para nós, nestes tempos
modernos. Tal rosa, traz sua perfeita correlação com a oração do Pai-Nosso”. A
oração é dividida em seis partes, cada
uma correspondente a uma de suas pétalas. Vale lembrar que o Pai-Nosso é a oração mais
conhecida e rezada em todo o mundo, independente da fé que se proclame. A rosa de seis pétalas, bem descrita como a
fonte dos milagres, traz cada trecho da oração, respectivamente designando em
pétalas: a fé, a rendição, o serviço, a abundância, o perdão e a superação dos
obstáculos. Considera-se que o caminho para a real transformação da alma começa
com o Pai-Nosso, neste exercício de vida e compreensão das pétalas que, após
vivenciadas se fundem no centro da rosa (do labirinto, pois), alcançando a
plenitude: o amor. Corteo constrói sua história
sobre este labirinto, em réplica perfeita e, sobre ele deslizam,
flutuam, pousam e se elevam personagens e profissionais da arte fazendo do
palco um milagre que celebra aos nossos olhos o mais sagrado dos mundos que une
nossos destinos em conexões transcendentais e divinas. Corteo é terra e céu, ligados e equalizados pelo
Cirque, iluminando o tempo da delicadeza.
Vale lembrar que a temporada em BH prossegue
até o dia 27 e os ingressos passaram a ter preço único (R$200,00 – duzentos reais)
para todos os setores, em promoção final de temporada. Simplesmente,
imperdível!
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