FOTO: Jota Renan
Presidente emérito da Academia Mineira de letras - AML, o escritor Olavo Romano morreu, às 16h40 da tarde de hoje, 16 de novembro, aos 85 anos.
Olavo Romano (Morro do Ferro/MG 06/09/1938 – Belo Horizonte/MG - 16/11/2023), estava internado na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Madre Teresa, desde o dia 8 de novembro, onde morreu vítima de câncer de pulmão, com metástase óssea.
O velório será realizado nesta sexta-feira, dia 17, das 10h às 15h, no Edifício Vivaldi Moreira da Academia Mineira de Letras – AML (Rua da Bahia, 1466 - BH). O sepultamento acontecerá no sábado, dia 18, às 9h30, no Cemitério Parque da Colina.
Olavo Romano deixa esposa, dois filhos, seis netos e um bisneto.
DEPOIMENTOS
“Nunca passou em minha vida uma pessoa tão generosa, tão coração, tão sensível. Passo por problemas delicados de saúde e, vejam só, é Olavo que sempre me deu a mão. Voa, Olavo! Seus sonhos serão cumpridos”
(Lucas Guimaraens, escritor)
“Olavo Romano foi uma pessoa exuberante em vários sentidos: pela inteligência, pela generosidade, pela escrita cativante e capacidade de comunicação. Na Academia Mineira de Letras, sua gestão como presidente imprimiu à instituição os novos rumos que vamos trilhando. Em luto pela privação da convivência, a Academia celebra os frutos deixados por tão rica vida para a literatura e a cultura brasileira”
(Jacyntho Lins Brandão, atual presidente da AML)
“Além de respeitável pela sua história, trajetória na literatura, admirável pela ética, generosidade, carisma e sorriso, Olavo Romano era um dos meus grandes amigos, meu padrinho, ao lado da querida Kátia, sua esposa. Com ele aprendi muito, de muitas maneiras, mais ainda pela suavidade de sua conexão com o ser e espiritualidade, como essência da vida. Muitas histórias memoráveis. E, hoje, após a notícia - durante conversa telefônica com Lucas Guimaraens, pouco antes do pôr-do-sol, em Belo Horizonte -, da janela vi o céu escuro, anunciando chuva e uma cena que nunca experimentei: um arco-iris saltar da escuridão. Entre analogias e metáforas, tentativa de autoacolhimento ou fé, não tive dúvidas: sinal em conexão com Olavo, indo à sua maneira, contar causos no firmamento – no que Lucas, concordou. Resta, junto à saudade, gratidão”.
(Márcia Francisco – jornalista e escritora)
ELEGIA PARA OLAVO ROMANO
Elegia?
Olavo era alegria.
Meu Deus, como ele ria!
Olavo soltava gargalhada
Como voo de passarada
Cada caso que ele contava
Todos caíamos na risada.
A história que mais me comoveu;
A daquele menino da roça
Que foi pela estrada de Santiago
Levando um espelhinho
Com um escudo do Vasco
E um pente Flamengo:
Tudo na santa paz
E no silêncio profundo
Quando o menino descobriu
Como era grande o mundo...
Se não me engano,
Encantou-se para sempre
Olavo Romano.
(Caio Junqueira Maciel, escritor)
“Olavo Romano foi uma das melhores pessoas que conheci na vida: generoso, alegre, fraterno, solidário, o sorriso sempre aberto. Pouca gente consegue manter viva dentro de si a criança que foi um dia. Ele conseguiu. Fará uma falta tremenda”
(Rogério Faria Tavares , acadêmico e Presidente Emérito da AML)
No WhatsApp, o grupo Literatura de Minas que reúne escritores, mudou nome e substituiu a foto por uma imagem preta. “Em luto, por Olavo Romano”. Inúmeros depoimentos e fotos, estão sendo postados, desde a hora da notícia.
OLAVO ROMANO
“Olavo Romano está entre os maiores contistas de Minas Gerais e sua prosa matiza a nossa língua, renovando-a na medida em que refunda a própria noção de mineiridade. Suas histórias são passagens da vida de gente simples tomando café ao pé do fogão, de homens do campo fazendo catira na porteira, da rotina do paiol e do curral, do encontro de amigas na saída da missa para botar a conversa em dia, da lida com a terra e a criação, do estirão de légua e meia em marcha picada. Os causos contados por Olavo são, enfim, um retorno ao tempo antigo, sempre reverenciado e, sobretudo, atualizado nas páginas de quem domina o ofício de bem dizer”.
(Leonardo Costaneto – Caravana Editora)
Olavo Romano nasceu em Morro do Ferro, distrito de Oliveira, na região Oeste de Minas Gerais, em 1938. Foi presidente emérito da Academia Mineira de Letras, onde ocupou a cadeira 37, editor sênior da Caravana e autor homenageado da Bienal Mineira do Livro de 2022. Formado em Direito, Romano cursou o mestrado em Administração na Fundação Getúlio Vargas. Ele também foi professor nos cursos de Serviço Social e Comunicação da PUC e fez carreira no serviço público aposentando-se como Procurador do Estado.
“Casos de Minas”, seu livro de estreia, completou 40 anos em 2022. A obra, lançada em 1982, registrou o jeito mineiro de ser, viver e falar do Brasil rural em que Olavo nasceu e foi criado.
omano não parou de escrever e na sequência vieram “Minas e seus casos” (Ática, 1984), “Dedo de prosa, Prosa de Mineiro” (Lê, 1986), “Os mundos daquele tempo” (Atual, 1988), “Um presente para sempre” (Atual, 1990), “Memórias meio misturadas de um jacaré de bom papo” (Dimensão, 2002), “São Francisco rio abaixo” (Abigraf, 2006), “Retratos de Minas” (Conceito, 2007), com o fotógrafo José Israel Abrantes, “Eta mineiro jeito de ser” (Leitura 2007), com relatos que, encenados, resultaram em três CD-ROMs distribuídos em escolas públicas. A toada de casos mineiros prosseguiu com “A cidade submersa” (Ramalhete, 2016) e agora com este “Café com prosa” (2021).
A produção de Olavo Romano incluiu, ainda, outras vertentes, como a coordenação do concurso de relatos selecionados presentes em “A História das Eleições é também a minha História”, de 2013. A obra fez parte da celebração dos 80 anos da instalação da Justiça Eleitoral no Brasil. Olavo também participou de antologias, como Tertúlias Quixotescas (Caravana, 2020) e duas outras alusivas à pandemia da COVID 19.
Pela Fundação João Pinheiro, o autor participou de Belo Horizonte & o Comércio, 100 anos de História, 1977, seguido de dez fascículos focalizando a vida de empresários da Capital. Para Além da Cidade Planejada, 1997, focaliza o Colégio Magnum e região Nordeste da Capital mineira. Memória Viva (1998) resume 50 anos da Alcan em Ouro Preto; Mestres Minas Ofícios Gerais (2000) resgata culturalmente o artesanato em Araxá. Seu livro Pés no Caiçara – um olhar sobre a Pampulha, escrito para o Shopping del Rey, foi lançado em 2003. Iluminando os caminhos de Minas (2005) registra os 50 anos da Cemig, enquanto Notas e tons de Israel (2014) conta a vida do empresário Israel Kuperman, resgatando sua experiência de “judeu que saiu da arca”.
O conto “Como a gente negoceia” gerou o curta-metragem “Negócio Fechado”, produção premiada no Festival de Gramado de 2001. O texto Zeca Lifonso serviu de base a curta metragem produzida em Muriaé pelo cineasta Euler Luz.
Com o concertista Roberto Corrêa, desenvolveu, pelo interior de Minas, o projeto Causo, Viola e Cachaça, do SEBRAE/AMPARC. Já com o projeto Minas Além das Gerais, do Governo do Estado, apresentou-se em Brasília, Rio de Janeiro e em São Paulo. No programa “Sempre um Papo”, animou saraus por diversas cidades mineiras. Fez parcerias musicais com Pereira da Viola, Chico Lobo, Lu e Celinha, com apresentações em shows e animados saraus. Durante muitos anos, aos domingos, participou do quadro Prosa Arrumada, do programa Arrumação, ao lado de Saulo Laranjeira.
Presidiu a Associação dos Amigos da Biblioteca Pública Prof. Luiz de Bessa e pertenceu ao Conselho Curador da Fundação Caio Martins, ao Conselho de Integração Social da Faculdade Estácio de Sá e integrou os Conselhos Consultivo de Instituto Fernando Pacheco e o de Administração da Imprensa Oficial de Minas Gerais. Foi Sócio Benemérito do Instituto Maestro João Horta.
No sossego do sítio onde se refugiou, Olavo Romano organizou seu legado, construído nos últimos quarenta anos. Presente com oito obras na Bienal Mineira do Livro de 2022, autografou também exemplares de dois livros conjuntos: “Tertúlia Quixotesca” e “FAMÍLIA ROMANO: Memória – Afeto – Gratidão”. Além disto, ainda em 2022, recebeu no projeto “Prosa e Cantoria”, os amigos Carlos Farias, Celso Adolfo, Chico Lobo, Lu e Celinha, Paulinho Pedra Azul, Rodrigo Delage, Saulo Laranjeira, Tau Brasil, Tino Gomes e Wilson Dias.
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