22 de fev. de 2024

A música brasileira perde Mônica Pedrosa

 27/04/1961 + 22/02/2024 


 

















Faleceu no início da madrugada de hoje, 22 de fevereiro, em Belo Horizonte/MG, a cantora lírica e ex-diretora da Escola de Música da UFMG, Mônica Pedrosa.

A artista, que estava internada, há alguns meses, no Hospital Madre Teresa deixa marido e dois filhos.  A despedida será no Parque da Colina (Rua Santarém, 50 – Nova Cintra – BH – MG, nesta sexta, dia 23, das 8h30 às 11h30, na Capela 3.

 

Dona de voz e timbres belos e de uma carreira respeitável e reconhecida, Mônica Pedrosa construiu durante sua trajetória profissional, um importante legado de registros artísticos fonográficos e pesquisas. Foi responsável pela formação acadêmica de inúmeros cantores, nas décadas em que atuou como professora. Ao lado do violonista Fernando Araújo realizou, durante anos um intenso trabalho de pesquisa e valorização da canção erudita brasileira. Conteúdo registrado no CD e livro de partituras “Canções da Terra, Canções do Mar” e na gravação das canções com violão de Francisco Mignone, lançada recentemente pelo Selo SESC e disponível em todas as plataformas de streaming.

 

A despedida dos palcos

Seu mais recente trabalho foi fruto da realização do pós-doutorado na Universidade da Califórnia, Riverside, com o apoio da UFMG, por meio do programa Capes Print. O projeto integrou as pesquisas desenvolvidas no Laboratório da Canção Brasileira da Escola de Música da UFMG, coordenado pelo Grupo de Pesquisa Resgate da Canção Brasileira/CNPq, e ofereceu uma base de conhecimentos para novas pesquisas na área da pesquisa artística.  O fruto deste trabalho foi o lançamento do filme concerto “Cantos da Memória” com a soprano Mônica Pedrosa e o violonista Fernando Araújo, lançado publicamente, em 2023, no Conservatório da UFMG. O espetáculo multimídia buscou ampliar a experiência do concerto tradicional de música erudita, mesclando música e vídeo com a apresentação ao vivo do ciclo Canções de Adélia – composto por Paulo C. Chagas sobre poemas de Adélia Prado – e a projeção simultânea de um filme criado especialmente para dialogar com a música.  O ciclo Canções de Adélia foi escrito em estreita colaboração entre compositor e intérpretes, trabalho que teve início em 2017 com a composição da primeira canção, Amor FeinhoA Serenata Orfandade são de 2018. As outras três canções, O Intenso BrilhoMeditação Contradança, foram escritas entre outubro de 2021 e maio de 2022, período em que Mônica Pedrosa e Fernando Araújo estiveram como pesquisadores visitantes na Universidade da Califórnia, Riverside - UCR, onde o compositor é professor de composição.  Paulo C. Chagas sugeriu o nome de Adélia Prado para musicar e escolheu o primeiro poema. A escrita memorialística da autora, que mescla ficção e biografia, encontrou grande ressonância nos participantes do projeto, que escolheram em conjunto os outros poemas. Mônica Pedrosa, então, os organizou de maneira a formar uma sequência narrativa, tendo em vista também a criação de um roteiro para um audiovisual. O argumento do filme, escrito pela cantora, gira em torno de uma mulher “nem jovem nem velha”, que conta sua história e revela seus dilemas e sentimentos, rememorando seus desejos, angústias, memórias do passado e expectativas do futuro, enquanto pendura   objetos em um varal. Elemento tão comum nos quintais mineiros, o varal é o local onde se colocam as roupas para secar e branquear, lugar de exposição de pertences, intimidades. Ao dependurar objetos no varal, a personagem embarca em um processo de autocompreensão e libertação, ao longo do qual ela aos poucos se conecta consigo mesma e, finalmente, faz as pazes com sua existência. Existe no trabalho uma narrativa memorialística, em primeira pessoa, inspirada pela própria escrita de Adélia Prado. Uma memória algo inventada que se mistura com a ficção de tal forma que, em alguns momentos, a cantora se desdobra em autora, narradora e personagem.  A realização do filme foi apoiada pela FAPEMIG por meio do Edital Demanda Universal. A palestra e um pitch sobre a pesquisa podem ser vistos no YouTube. O filme será lançado em breve.

 

Biografia

Graduada em Canto pela Universidade Federal de Minas Gerais (1986). Mestre em Canto pela Manhattan School Of Music (1989). Doutora em Letras / Literatura Comparada pela Faculdade de Letras da UFMG (2009). Realizou Pós-doutorado como Professora Visitante na Universidade da Califórnia, Riverside, como bolsista do PRINT - Programa Institucional de Internacionalização da CAPES (2021-2022). Foi professora associada da Escola de Música da UFMG. Foi Diretora dessa Instituição na gestão 2014-2018. Atuou na linha de pesquisa Performance Musical do programa de Pós-graduação em Música. Foi coordenadora do Grupo de Pesquisa Resgate da Canção Brasileira inscrito no diretório de pesquisa do CNPq em 2003. Desenvolveu os seguintes projetos de pesquisa: A canção brasileira de câmara - localização de partituras, catalogação, análise, divulgação, edições de partituras, registro sonoro; Estudos da Canção de Câmara Brasileira para Canto e Violão - análise, performance, transcrição, registro sonoro, dicção em português; Voz: Sonologia e Performance - estudo da voz como material acústico em sua vinculação com as produções e atividades musicais, estudos sobre o Português brasileiro cantado. Elaborou, juntamente com pesquisadores brasileiros da área de Canto, a Tabela Fonética do Português Brasileiro Cantado. Em sua pesquisa de Doutorado estudou as interrelações entre música e poesia nas canções de câmara de Lorenzo Fernandes, quando desenvolveu teorias sobre imagética musical com base na semiologia da música. Participou da comissão encarregada de elaborar proposta do Plano de Cultura da UFMG, atendendo a convocação do Edital Mais Cultura nas Universidades, do Minc e MEC. Foi co-coordenadora do Projeto Plano de Cultura da UFMG e integrante do comitê executivo do Fórum UFMG de Cultura. Atuou regularmente como cantora em música de câmara e concertos com orquestra como o Requiem de Brahms, o Requiem de Mozart e a Missa Brevis de Beethoven.



Reconhecimentos públicos

Entre os reconhecimentos públicos, Mônica Pedrosa foi agraciada com a  Medalha Santos Dumont, Governo do Estado de Minas Gerais, 1992; encedora em duo com o violonista Fernando Araújo, XX Artists International Auditions, New York, USA, 1986; Segundo lugar, III Concurso Nacional para Jovens Intérpretes da Música Brasileira, Rio de Janeiro, RJ, 1984; Primeiro Lugar, III Concurso Nacional Villa-Lobos, Vitória, ES, 1984; recebeu  Menção Honrosa e Prêmio Revelação, I Bienal de Canto de Câmara Maria Sylvia Pinto, Rio de Janeiro, RJ 1983 e foi Destaque: Revelação do Ano, Caderno de Cultura do Jornal Estado de Minas.

 

 

Depoimentos

"Mônica transformou a vida de muitos alunos que passaram por ela, com seu bom o humor, conhecimento, sua humanidade, que é uma das coisas que mais admiro nela e sua forma de nos acolher em todos momentos. 

Grande mulher e profissional.

Eu a levarei sempre comigo."

(Núbia Eunice, aluna) 

 

"Força, inteligência e sensibilidade sempre definiram a Mônica. Também o respeito à arte, a sinceridade, a dedicação e o perfeccionismo. Triste perder uma amiga, colega de tantos anos. Mas sua voz permanece no êxito de seus alunos, nos seus textos, nas suas gravações, nas realizações por nossa escola. Permanece a Mônica na admiração e no amor da família e dos amigos."

(Luciana Monteiro de Castro - professora da UFMG) 

 

"Fui seu aluno e também seu colega na Escola de Música da UFMG. Mônica sempre demonstrou muita determinação para a realização de seus projetos, muitos dos quais para a valorização da canção brasileira de câmara, tendo contribuído sobremaneira para o crescimento da área de Canto da Escola de Música."

(Mauro Chantal, professor associado da Escola de Música da UFMG) 

 

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