Com o tema “Ventres da Terra”, em que mulheres de luta e mestras da cultura popular serão homenageadas, o tradicional Pena de Pavão de Krishna vai desfilar no domingo de Carnaval, dia 11 de fevereiro, pelas ruas do bairro União, em Belo Horizonte. A concentração do politizado bloco será a partir das 7h, na avenida José Cândido da Silveira, em frente ao Parque da Matinha. O cortejo, que encanta os foliões pela música, pela estética azul e pelas pautas sociais e ambientais, vai contar com as presenças especiais das cantoras Augusta Barna, Coral, Deh Muss Muss Onirika, Dona Eliza, Fran Januário e Dea Trancoso. A força feminina é a essência do desfile deste ano!
“Ser mulher não é uma coisa simples e nem fácil”, crava a convidada de honra Déa Trancoso, adiantando que uma das homenageadas por ela, durante o desfile, será a cantora Rita Lee, artista que faleceu em maio de 2023. “Eu poderia homenager tantas outras, mas a Rita foi uma figura muito especial e desbravadora, uma mulher que mexeu no tabu, que é o sexo, que transitou pela linguagem sexual de maneira leve e que tem uma beleza única”, completa.
Rita Lee não será a única mulher de luta homenageada no desfile do Pena de Pavão de Krishna. Dagmar Bedê, ao lado de palhaças de bicicleta, farão uma intervenção para a artista Julieta Hernández, a Palhaça Jujuba, que foi brutalmente assassinada em solo brasileiro no momento em que regressava para casa, na Venezuela. Haverá, ainda, ao longo de todo o trajeto do bloco, estandartes com figuras de mulheres ilustres, mulheres que exemplificam a força feminina. A ala de dança do Pavão, comandada por Lalis Diniz e Lola Lessa, estarão em sintonia com as homenagens e com o repertório do desfile.
“Para mim, o Carnaval é um evento de cunho revolucionário em meio à felicidade. E a alegria é um lugar onde a gente consegue organizar a sociedade dentro do sonho dela. É uma festa que desperta em nós o feminino, mas não só em questão da mulher, como de homens, mas de encontrar o feminino em nós, a energia criativa, a gestação de projetos, o acolhimento, o concretizar e o cuidar”, descreve a cantora Leopoldina, que integra a banda do Pena de Pavão ao lado de Raphael Salles, Manu Andrade e Thiago Braz. A bateria do bloco é regida pelo maestro Túlio Nobre.
10 MIL FOLIÕES
Em seu 11º cortejo, o Pena de Pavão de Krishna — um dos responsáveis pelo reavivamento do Carnaval de Rua de BH — espera receber cerca de 10 mil foliões. Como é tradicional, durante a concentração, a partir das 7h, haverá um piquenique coletivo, com frutas da estação, água e alimentos nutritivos, o ritual em que os foliões se pintam de azul e a presença serena e energizante do movimento Hare Krishna, representado por integrantes da ISKCON BH, que farão o kirtan (canto de mantras).
O bloco, que é tradicional na manhã de domingo e que já fez desfiles apoteóticos, sempre levantando bandeiras sociais, conta, ainda, com uma ala infantil, carinhosamente chamada de P.P.Kids, que acolhe também PCDs e idosos. A direção artística do cortejo é de Maíra Leonel. O Pena de Pavão tem a produção assinada pelos integrantes do coletivo Águas Gerais: Manu Andrade, Túlio Nobre, Andreza Coutinho (Dezza) e Gustavito Amaral.
REPERTÓRIO AFINADO
Desde o começo de Janeiro, o regente Túlio Nobre e as coreógrafas Lalis e Lola, assim como a banda do bloco, estão imersos no repertório do desfile do Pena de Pavão de Krishna que, neste ano, contará com o patrocínio da CEMIG, via Lei Estadual de Incentivo à Cultura, e com o apoio da Belotur. A ideia é saudar a força feminina presente em todos os lugares e oriundas de todas as épocas. O convite para as cantoras Augusta Barna, Coral, Deh Muss Onirika, Dona Eliza, Fran Januário e Dea Trancoso, inclusive, reforça a proposta política do cortejo “Ventres da Terra”.
“Vamos trazer o conhecimento ancestral com base nas músicas ‘Tupinambá’ e ‘Olária Divina’. Essas canções carregam duas divindades, o tupinambá, que chamamos de masculino saudável, e a Nanã Buruquê, que é uma das forças femininas mais antigas da Umbanda”, adianta Dea Trancoso. “O tupinambá é um pajé antigo, conhecedor da vida e das sabedorias que compõem a cosmologia dos povos originários, e Nanã, a grande avó, também detém boa parte do conhecimento do povo africano. Não se trata de uma energia masculina ou feminina, mas de dois princípios, a força e a suavidade. Então vamos mexer nessa energia antiga, do que é envelhecer, do que é ser uma mulher velha e manipular esse conhecimento que não é uma coisa bem-vista e invisibilidade pelo capitalismo, assim como os corpos velhos femininos”, explica a cantora.
Promessa da música popular brasileira, e temperando os romances no Pena de Pavão de Krishna, Augusta Barna levará para o cortejo a canção “Acajú”. “É uma canção que fala sobre o amor de verão e que faz sentido com essa narrativa do Carnaval, porque tem a questão da folia, da paixão, então a música faz muito sentido nesse período”, destaca ela.
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